_Sinopse
“Comum entre nós :: Silêncio o espaço tempo de resistência e resiliência” é uma performance para espaço público inédita que discute a interdependência, a conectividade e o comum, a partir da sensação de tempo suspenso, do silêncio e da exploração termo cultural japonês Ma “間”, como práticas e procedimentos de resistência e resiliência. Em sua realização, cinco corpos são suspensos em ação de contrapeso vestindo um mesmo tecido vermelho com ramificações concêntricas.
Do seu centro saem cinco ramificações com comprimentos diferentes que, em conjunto com os cinco corpos amareles, formarão um desenho a partir do equilíbrio dinâmico de contrapeso. Para cada realização, neste sentido, desenhos distintos e múltiplos, frutos da escuta e do devir metaestável da coletividade.
Ligados por uma ancestralidade reticente, por elos perdidos e linhas vermelhas rompidas, um comum que se constela por essas identidades e memórias fragmentadas e miscigenadas.
_Conceito
Em “Comum entre nós :: Silêncio o espaço tempo de resistência e resiliência”, cinco corpos são suspensos em contrapeso e mantidos em constante tensão metaestável por uma malha de tecido vermelha. Conectados, se equilibram se desiquilibrando, numa ação contínua de perceber e se voltar ao outro.
A duração instalativa da ação transfere e concentra a atenção e a percepção do espectador para as mínimas alterações no espaço. O movimento do tecido ao vento cria sensações sinestésicas de sonoridade com seu ritmo e inconstância. Suas quase imperceptíveis ondulações tornam o tempo tangível, ainda que suspenso e fotográfico.
Em tensão, a ação se consolida através da resistência física e psicológica de cada corpo interligado. Qualquer minúcia interfere no todo, cada gesto, cada intenção. Um hiato eterno, em constante movimento intervalar, como uma pausa, em que os vetores seguem apontando para uma direção, sugerindo uma ação que nunca se completa. Nesse sentido, um devir Ma a partir da resiliência, da conectividade, da coletividade e da escuta dos e entre os corpos.
Assim, uma presença que impõe uma alteração de percepção do espaço / tempo a partir de uma escuta táctil entre o sensível e o imperceptível, e que desencadeia uma rede polissêmica de estados corpóreos de interdependência e porosidade ao entorno.
_Ma “間”
O silêncio e a expectativa de ação geram e perpetuam a tensão espacial e a suspensão temporal, numa eterna iminência de acontecimento. Um equilíbrio metaestável de escuta e percepção do outro através da conexão no espaço.
Em (des)equilíbrio dinâmico, a espaço temporalidade Ma se presentifica pela constância em que o sistema se auto-organiza para o silêncio. Uma ação de equilibrar / desiquilibrar duracional, que se instaura numa contínua tensão de contrapeso, e a partir de uma conectividade profunda e silenciosa entre corpos.
_Silêncio, o espaço tempo de resistência e resiliência
O vermelho que envolve os corpos avizinha todas as formas de luta pela vida; o sangue que jorra das periferias e das reservas indígenas é o mesmo que trabalha nos centros urbanos para oferecer conforto e lucro àqueles que tudo destroem; essa tensão arterial sustenta a suspensão dos corpos e das vidas em devir com Ma.
Numa realidade tomada por ondas de conservadorismo, autoritarismo, intolerância às diferenças, fake news e polarização política, a escuta e o silêncio tendem a ser as mais poderosas formas de resistência. É uma ativa-ação que, por contraste, é um grito.
Obra comissionada pela Mostra FESTA SESC-SP – unidade Santo Amaro